domingo, 2 de maio de 2010

Vilarejo

Para Alessandra Sena

Viajando pelo norte de Minas rumo a Januária, fiquei observando  a quantidade de pequenas vilas, como é típico nos municípios mineiros: casinhas rodeadas de tradição. Em cada distrito, a igrejinha em torno da qual surgiu a história do lugar.
No poema Janelinha de trem Mário Quintana fala sobre "o desejo de um dia ficar repousando sob uma dessas cruzes de volta de estrada que parecem também estar viajando...."
Também fiquei com vontade de subir uma daquelas montanhas e visitar aquelas igrejinhas. Sentir o cheiro da fé, dos costumes, dos quitutes e ouvir o murmúrio das rezas. Desejei pertencer a um vilarejo como aquele descrito na música de Marisa Monte . Bater palmas na porta de casa, observar gotas de chuva fazendo pequenos buracos na terra, comer doce feito com  fruta do próprio quintal e ver a vida passar devagar....
Os mais receosos falarão das fofocas, dos pudores desse meu imagético vilarejo, mas prefiro pensar que isso é simples frente aos percalços da vida moderna.
Quero tomar café em mesa farta na casa de comadre. Quero falar com respeito dos meus antepassados. Quero guardar a sete chaves o segredo da receita do bolo da minha avó. Quero a igrejinha...o perfume das laranjeiras, o vilarejo  em cima da montanhas, dançar forró, esperar a reunião da primaiada nas férias, reunir as amigas para discutir modelos de roupa e cores de tecido. Quero  dar  "bom dia" para as pessoas que passam e, principalmente, acreditar que a vida sempre nos trará coisas boas, surpresas mágicas: na próxima chegada de ônibus, no que vir no "depois das montanhas", na safra das próximas chuvas, em cada começo de ano, em cada recomeço do trabalho.

Vila rejo (Marisa Monte)

(...)
Lá o tempo espera
Lá é primavera

Portas e janelas ficam sempre abertas
Pra sorte entrar

Em todas as mesas, pão
Flores enfeitando
Os caminhos, os vestidos, os destinos
E essa canção

Tem um verdadeiro amor
Para quando você for