terça-feira, 21 de julho de 2009

Peninhas rosas pela casa...



É assim que sempre acontece quando troco de quarto, ou mudo o guarda-roupa de lugar, ou simplesmente arrumo meu mundo de quinquilharias. Isso porque já me vesti de anjo quando criança e, de forma devota, no mês de maio me colocava sobre o altar de Nossa senhora, no meio de uma chuva de pétalas, a coroá-la sob vozes infantis tão estridentes quanto a minha.

Até hoje guardo as vestimentas de tal ritual: asas; cestinha para guardar as flores que pedia sorridente aos vizinhos; coroa digna de princesa, apesar do tempo insistir em amassá-la e o vestido longo de cetim feito por minha avó.

Num saco plástico, no fundo do maleiro, se escondem essas peças impregnadas de lembrança. No máximo empresto-as para uma ou outra criança, mas elas sempre voltam para mim. Basta avistá-las para recordar todas as cantigas à Maria que ainda guardo de cor, mais no coração do que na mente.

Assim, sempre que minhas peninhas de anjo perpassam pela casa, a criança que fui me espia com olhos diáfanos e surpresos.....

É estranho, pois não sou mais portadora daquela religiosidade pueril da menina, mas ao mesmo tempo sou a mesma.

O tempo passou rápido e no baú da vida cabe o "tudo" que se faz história (re)vivida nas simples peninhas rosas que pairam por aí........