quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Semáforo


As palavras mais densas surgem de onde não há... onde o silêncio impera e as lacunas criam frestas que sopram o vento das histórias ofuscadas. O anonimato, a falta de detalhes sobre um determinado fato, ou o simples restante não narrado de um caso instigam a alma e ela devaneia pairando sobre esses ocos inspiradores gerados pelo silêncio.
" Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores
que eu não sei o nome" (Adriana Calcanhoto_ Esquadros) e trafegando pelo vasto mundo de imagens, palavras e caos de minha cidade, deparei-me com uma declaração de amor exposta em um outdoor. Ah o amor!!! Exposto ali, no meio das mais comerciais e capitalistas das avenidas, lugar por onde todos passam para as mais atribuladas atividades e ele ali: o amor exposto assim como se fosse algo que não se percebesse, como se estivesse ali apenas para mandar um recado individual para a pessoa amada tal qual bilhete na geladeira, batom no espelho.
Apesar de exposto de forma hiperbólica em imensa placa, a declaração era realmente dirigida de forma hermética a apenas uma pessoa: não possuía o nome do destinatário, nem remetente. Não se sabe nem mesmo a opção sexual dos amantes. E o que importa? Importa é o quanto a mente trabalha ao ler aquelas letras garrafais. Interessante é o quanto se passea pelo interdito. Sabe-se apenas de um amor grande, de uma hipotética separação...tudo são cacos que se cola com a mais interessante das substâncias: a imaginação. Ao tentar entender o manancial sob aquele outdoor, entremeia-se o silêncio com cenas vividas, filmes, músicas, bilhetes...cada um pode inventar seu próprio amor e quando o semáforo se abre, todos aceleram com um sorriso breve, cada um imerso no seu próprio mundo amoroso...