terça-feira, 16 de novembro de 2010

Cheiro de lírios

Havia o nervosismo, a responsabilidade, o trabalho! Mas, no espaço do evento, colocaram um arranjo de flores... Meu nervosismo ficou com cheiro de lírio. Isso fez toda a diferença...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Travessia

Ultimamente ando com uma vontade louca de me espiar. Queria poder ir até o futuro e me ver numa situação cotidiana daqui a uns anos. Descobrir se continuei eu mesma, se consegui cumprir minhas próprias metas e alcançar meu sonhos. Mas tenho que me contentar com minha situação humana de eterna esperança. Não dar para prever o futuro então o melhor é mesmo aproveitar a "travessia". Só sei de mim no presente. O futuro é sempre uma ave sem rumo. Ou com o voo já traçado? Não sei. Pertenço mais às interrogações do que às certezas.   

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

No feriado de ontem, depois de cumprir o ritual de conversar com meus mortos, aproveitei a chuvinha sempre supreendente neste sertão nortemineiro para assistir ao filme Julie e Julia. Filme encantador! Baseado em dois livros escritos em tempos bem distintos, ele aborda a forma como Julie, uma funcionária pública americana entediada com o trabalho e seu fracasso na tentativa de tornar-se uma escritora, já que não consegue terminar nada que inicia, encara um desafio: cozinhar todas as receitas francesas do famoso livro de Júlia Child e postar todas as experiências num blog . A empreitada era gigantesca para quem trabalhava o dia inteiro, chegava em casa mais 08 da noite e teria que preparar 536 receitas em 365 dias. Apesar do desânimo de alguns momentos, Julie consegue finalizar a atividade, o blog torna-se famoso, transforma-se num livro e , em 2009, nesse filme.
Para quem gosta do prazer de cozinhar, e, sobremaneira, de comer, o filme é um deleite. Leve, engraçado e edificante. Mostra, paralelamente, a força de persistência de duas mulheres: No passado, Julia Child na tentativa de publicar seu livro de receitas que tornou-se um sucesso e a levou também para a função de apresentadora de um programa de TV sobre culinária; e a determinação de Julie que, mesmo tendo inicialmente como leitora apenas a mãe, insiste no desafio por saber que isso a tornaria uma pessoa melhor, capaz de cumprir suas próprias metas. Agora quero ler os dois livros: a biografia de Júlia Child escrita pelo marido e as experiências de Julie relatadas pela própria. É muito bacana observar o quanto as histórias "renderam" com a era digital. Se inicialmente pensávamos que o computador acabaria com o livro, hoje assistimos a uma roda viva na qual as histórias vão se multiplicando. O blog Para Francisco, por exemplo, do qual sou fã, nasceu do luto da publicitária mineira Cristiana Guerra. Grávida, ela perdeu seu companheiro e para registrar as lembranças do amor entre eles com o intuito de mostrá-las posterirmente ao filho Franscisco, criou o blog que mencionei acima, cheio de vida, dor e muita beleza na escrita. Resultado? O blog passou a ter muitos seguidores emocionados com a escrita e história de Cris e trasnformou-se também no livro Para Francisco. Quem sabe um dia venha a ser um filme?
Só para citar aqui outro exemplo, a escritora Clarah Averbuck também começou escrevendo um blog, depois publicou livros e eles foram transformados em filme. Sem querer discutir aqui a qualidade dessa literatura surgida no universo cibernético, gosto muito de ver as histórias se ecoando. Esse fato lembra-me os contadores de histórias que pegam uma narrativa de um lugar, espalham-na em outro de forma já modificada e as palavras vão se tecendo por aí... No fundo, no fundo, todas as histórias, inclusive a própria vida, é uma grande rede tecida de palavras.

sábado, 7 de agosto de 2010

Felicidade

A felicidade é o bater de asas de um pássaro colorido que às vezes vem me visitar. Ele nunca avisa quando virá, tampouco tenho presságios sobre sua chegada. Não há toques de trombeta, o tempo não para ...
Mas recebo-a como dama mais do que merecedora de sua visita. Não faço perguntas! Jamais! Para não assustar o voo macio que traz meu sorriso.Às vezes esse pássaro encantado faz seu trajeto rumo a minha felicidade através de música, outras vezes usa algumas palavras escritas ou o olhar de um amigo. Tal ave mágica também traz minha felicidade através de uma gota minúscula de esperança colhida em fontes do além. Também me visita através das frases de crianças surpresas no tudo descobrir. Ele sempre traz um pedaço de mim perdido em remotos lugares. Sei que é um pássaro frágil. Sei que vai perdurar pouco seu voo de felicidade diante dos meus olhos. Ele fugirá todas às vezes que eu tentar eternizá-lo ao meu lado. Mas ele volta!!! O FRÊMITO VOO DA FELIDADE SEMPRE VOLTA... 

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Paixão

“Se uma camisa branca e preta estiver no varal num dia de tempestade, o atleticano torce contra o vento” (Roberto Drummond)

Não, não sou atleticana! Infelizmente! Porque queria eu viver uma paixão futebolística seja lá a cor do time. Só assisto aos jogos do Brasil na copa, não sei nome de jogadores, até hoje não entendi direito o tal do impedimento, mudo de canal quando começa os programas de esporte.
Cresci em meio a uma família materna de simpáticos cruzeirenses e uma família paterna de ardorosos atleticanos. Acabei não ficando em nenhum dos lados, acho que sempre gostei de um entre-lugar. Diante da minha total ignorância futebolística de achar que o nome "Cuca" sugere apenas uma personagem do Sítio do Pica-pau Amarelo criado por Lobato e não o novo treinador do Cruzeiro , gostaria de confessar uma admiração: Sou encantada pelos apaixonados! A paixão dos adolescentes que declaram amor eterno sem saber que ainda há muito para viver, a paixão dos fãs que confudem o ídolo com todos os seus próprios sonhos, a paixão dos pais de primeira viagem ao verem o sono calmo dos filhos, a paixão da menina com seu primeiro diário, a paixão misteriosa que às vezes sentimos  por uma música que fica por dias tocando na nossa mente, o olhar apaixonado do cão pelo seu dono...e a paixão em preto e branco dos atleticanos. 

domingo, 2 de maio de 2010

Vilarejo

Para Alessandra Sena

Viajando pelo norte de Minas rumo a Januária, fiquei observando  a quantidade de pequenas vilas, como é típico nos municípios mineiros: casinhas rodeadas de tradição. Em cada distrito, a igrejinha em torno da qual surgiu a história do lugar.
No poema Janelinha de trem Mário Quintana fala sobre "o desejo de um dia ficar repousando sob uma dessas cruzes de volta de estrada que parecem também estar viajando...."
Também fiquei com vontade de subir uma daquelas montanhas e visitar aquelas igrejinhas. Sentir o cheiro da fé, dos costumes, dos quitutes e ouvir o murmúrio das rezas. Desejei pertencer a um vilarejo como aquele descrito na música de Marisa Monte . Bater palmas na porta de casa, observar gotas de chuva fazendo pequenos buracos na terra, comer doce feito com  fruta do próprio quintal e ver a vida passar devagar....
Os mais receosos falarão das fofocas, dos pudores desse meu imagético vilarejo, mas prefiro pensar que isso é simples frente aos percalços da vida moderna.
Quero tomar café em mesa farta na casa de comadre. Quero falar com respeito dos meus antepassados. Quero guardar a sete chaves o segredo da receita do bolo da minha avó. Quero a igrejinha...o perfume das laranjeiras, o vilarejo  em cima da montanhas, dançar forró, esperar a reunião da primaiada nas férias, reunir as amigas para discutir modelos de roupa e cores de tecido. Quero  dar  "bom dia" para as pessoas que passam e, principalmente, acreditar que a vida sempre nos trará coisas boas, surpresas mágicas: na próxima chegada de ônibus, no que vir no "depois das montanhas", na safra das próximas chuvas, em cada começo de ano, em cada recomeço do trabalho.

Vila rejo (Marisa Monte)

(...)
Lá o tempo espera
Lá é primavera

Portas e janelas ficam sempre abertas
Pra sorte entrar

Em todas as mesas, pão
Flores enfeitando
Os caminhos, os vestidos, os destinos
E essa canção

Tem um verdadeiro amor
Para quando você for



sexta-feira, 16 de abril de 2010

Por que adoro sextas-feiras...

“Não sei se vocês já sentiram, leitores, a obrigação de ser feliz que vem embrulhada nas tardes de sexta-feira. É como uma imposição: quem não for estupidamente feliz, entre num bar e beba um vermute com amendoim e se embriague como nos doces tempos de outrora”.

Roberto Drummond

terça-feira, 6 de abril de 2010

As palavras e o tempo

Outrora escrevi um texto a lápis.
Voltei para cobrí-lo de tinta como forma de deixá-lo, pelo menos por um tempo, protegido das peripécias do tempo.
O tempo....
Ele já tinha começado a tecer suas teias viscerais e minhas palavras já começam a se apagar.
Misturadas, não permitiram a devida leitura.
Não consegui reler o que escrevi naquele tempo.
O tempo realmente apagou as letras, ou fui eu quem me apaguei daquelas remotas palavras?

Sobre o amor e suas intempéries

Os amores platônicos só são realmente belos na teoria. Imagens de paciência, sacrifício e devoção podem até fazer um baita sucesso nas melodias, no cinema ou na literatura, mas na prática...são extremamente dolorosos.
A dor de amar de forma intensa ao ponto de perder o sono, banhar-se em lágrimas pela pessoa amada que, provavelmente, nem lembra de sua existência, pode parecer extremamente poética, porém machuca infinitamente.
Marília esperando, tecendo e amando um Dirceu que já era senhor de escravos em Moçambique, casado e tranquilo no exílio totalmente esquecido dos sonhos utópicos da juventude e também da noiva, musa dos seus versos, é deveras romântico, mas certamente menos lírico e mais sofrido para a Marília de carne e osso, Maria Dorotéia, que recebeu por boca de outrem a notícia que seu amado noivo Tomás Antônio Gonzaga ( o Dirceu das liras) desposara outra moça. 
Prova disso talvez seja o fato dela nunca mais ter se relacionado com outro homem. Morreu só, certamente depois de assistir suas amigas e familiares casarem, terem filhos e viverem paixões menos heroicas e mais palpáveis do que a dela que morreu aos 80 anos, só e sem nunca mais ter botado o olho nos olhos do seu amado.
Da mesma forma, a metáfora da eterna espera encerrada por Penélope tecendo e destecendo o manto que, quando terrminado, seria sinal de que sua hipotética viuvez se acabaria e ela escolheria outro marido ganha cores mais ácidas e perde os nuances passionais quando se imagina a longa espera de mais de uma década pelo marido. 
Diferentemente da história de Tomás Antônio Gonzaga e Maria Dorotéia, Ulisses retorna para os braços de sua Penélope. Mas apenas sua presença fará com que ela esqueça todos os percalços dessa ausência de dez anos? E o amor dos dois superará as discrepâncias entre esses novos seres que surgiram depois de tantas adversidades?
A verdade sobre o amor revela-se com todas as suas idiossincrasias quando lenvantamos o véu superficial da imagem exteriorizada e alcançamos as reais angústias de um relacionamento.
Lágrimas de saudade e desespero podem até compor um lindo quadro, mas maltratam o ser e distorcem o amor que certamente combina mais com a alegria do que com o sofrimento.        

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O amor requer registros...

É uma forma de tentar eternizar o fulgaz momento. Adolescentes escrevem os nomes enamorados em troncos de árvores, capas de caderno, palma da mão...
Há circunspectos adultos que confessam, num misto de nostalgia e humor, que já escreveram em gomos de bambu para que o amor do casalzinho infantil crescesse junto com a planta. 
E o que dizer das cartas de amor??? Tentativa de dar nome para aquele sentimento que o significado está sempre além...em todo lugar/nenhum lugar: o querer bem!  
Outro dia recebi cartinha do meu namorado e lembrei-me dos versos de Fernando Pessoa sob a voz de Álvaro de Campo:

"Todas as cartas de amor são

Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
(...)

Álvaro de Campos, 21-10-1935  

Bom....não achei a cartinha do meu amor nada ridícula! Pelo contrário, bem real, repleta de sentimentos nobres e sonhos possíveis. Mas, se amar  e escrever cartinhas for mesmo patético, assumo a sina. Deem-me logo o narizinho vermelho que quero entrar na fantasia. Tanto que corri para responder as palavras amorosas.

A vida é efêmera...o amor quer se fazer eterno, palpável na sua matéria feita de quimeras, por isso exige registros...
Alguém sabe onde encontro um pé de bambu para desenhar as iniciais dentro de um coração??? Também nos imaginamos perenes nesses momentos...      

   

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Um mundo numa escova de dentes




Passar pelas ruas, seja a trabalho ou passeio, a pé ou motorizado, é navegar pelos mares de histórias que cada pessoa traz. Cada rosto anônimo na multidão é todo um universo, uma história, uma odisseia, uma religião. São montanhas de experiências, amores, ideologias, sonhos e ressentimentos...
Sempre gostei de imaginar o que está por trás de um rosto anônimo na multidão. A quantidade de subjetivismo na escolha de uma cor de cabelo, o grito de próprio casulo querendo se exteriorizar através de uma aparentemente simples vestimenta, tudo isso me fascina.
Ontem, o que me chamou a atenção fazendo a mente perambular por hipóteses mirabolantes foi uma escova de dentes branca perdida em meio ao tráfego descomunal da avenida mais movimentada de Montes Claros.
Aquela escova ali, imóvel em meio ao tumultuado cotidiano das pessoas não tinha nada de silenciosa, talvez trazia um tanto de mistério, mas, ainda que imóvel, como dizia aquela escova!
Para alguns, ela falava de um romance, brigas, separação passional de escovas e corpos: a bolsa arrumada às pressas, um zíper aberto e, por fim, ela caída ali.
Outros juram que ela narrou que caíra de uma mochila pertencente a um jovem que passara carnaval em Diamantina e chegando repleto de sono, nem percebera o sumiço involuntário da companheira higiênica.
Os mais taciturnos delongaram numa triste história de vida, afirmando que ela era instrumento de trabalho de um lavador de carro e motos que, ao voltar cansado do trabalho, não notou quando ela caíra da sacolinha plástica.
A escova falou!!! Ali, no chão, ela era a imagem metonímica dos raros momentos em que nossa mente devaneia no eterno encantamento e enigma que é "a vida dos outros".