Viajando pelo norte de Minas rumo a Januária, fiquei observando a quantidade de pequenas vilas, como é típico nos municípios mineiros: casinhas rodeadas de tradição. Em cada distrito, a igrejinha em torno da qual surgiu a história do lugar.
No poema Janelinha de trem Mário Quintana fala sobre "o desejo de um dia ficar repousando sob uma dessas cruzes de volta de estrada que parecem também estar viajando...."
Também fiquei com vontade de subir uma daquelas montanhas e visitar aquelas igrejinhas. Sentir o cheiro da fé, dos costumes, dos quitutes e ouvir o murmúrio das rezas. Desejei pertencer a um vilarejo como aquele descrito na música de Marisa Monte . Bater palmas na porta de casa, observar gotas de chuva fazendo pequenos buracos na terra, comer doce feito com fruta do próprio quintal e ver a vida passar devagar....
Os mais receosos falarão das fofocas, dos pudores desse meu imagético vilarejo, mas prefiro pensar que isso é simples frente aos percalços da vida moderna.
Quero tomar café em mesa farta na casa de comadre. Quero falar com respeito dos meus antepassados. Quero guardar a sete chaves o segredo da receita do bolo da minha avó. Quero a igrejinha...o perfume das laranjeiras, o vilarejo em cima da montanhas, dançar forró, esperar a reunião da primaiada nas férias, reunir as amigas para discutir modelos de roupa e cores de tecido. Quero dar "bom dia" para as pessoas que passam e, principalmente, acreditar que a vida sempre nos trará coisas boas, surpresas mágicas: na próxima chegada de ônibus, no que vir no "depois das montanhas", na safra das próximas chuvas, em cada começo de ano, em cada recomeço do trabalho.
(...)
Lá o tempo espera
Lá é primavera
Portas e janelas ficam sempre abertas
Pra sorte entrar
Em todas as mesas, pão
Flores enfeitando
Os caminhos, os vestidos, os destinos
E essa canção
Tem um verdadeiro amor
Para quando você for
"Sentir o cheiro da fé, dos costumes, dos quitutes e ouvir o murmúrio das rezas."
ResponderExcluirA fé tem o cheiro das procissões, das velas queimando, do incenso do padre, da brisa no rosto... imagino eu... relembro eu...
Os costumes têm cheiro de ontem, da janela de madeira furada de cupim, da porta rangendo e a comida cheirando, tem cheiro da casa da avó, mofo e amor misturados, quintal rosado... de rosas... de margaridas e formigueiros... recordo... penso... imagino... vejo os mastros, os biscoitos, as bandeiras, o foguetório...
Os quitutes têm cheiro bom, como todo quitute, mas tem que ser de vó... de mais ninguém... lembro do cheiro... bom... sempre é bom lembrar...
O murmúrio das rezas tem som de melancolia, de um discreto desafinar e um desafinar tão bonito, tão programado, tão ensaiado que fica bonito de escutar! É bom... é rico o recordar!
Vc tem o poder de dizer muito em poucas palavras... Parabéns, Daiane!!!!!!!!
Mil beijos! Abraços e aplausos!
Cyntia.
Estamos nostálgicas ultimamente né Cyntia? beijos!
ResponderExcluirComecei a ler o seu texto e pouco tempo depois um fio de lágrima escorria pelo meu rosto. Me emocionei de verdade. Talvez por já ter vivido num vilarejo assim e agora, com a tão falta de tempo do mundo adulto e com a vida se passando quase em uma metrópole (perto do meu vilarejo posso chamar Montes Claros assim, rsrs) não tenho tempo nem de sentir o cheiro dos quitudes ou os mumúrios das rezas. Meu Deus, por que só hoje percebo que isso fazia tão bem ao coração?
ResponderExcluirVocê é demais Dai! Parabéns e obrigada por fazer-me lembrar de momentos tão doces, assim como os doces das frutas dos quintais...
Camila, obrigada por me "emprestar" seu vilarejo através dos doces e bordados de sua avó, das tantas histórias de Inimutaba e pelo seu sorriso de "menina de Minas"
ResponderExcluirBeijos!!!