quarta-feira, 3 de novembro de 2010

No feriado de ontem, depois de cumprir o ritual de conversar com meus mortos, aproveitei a chuvinha sempre supreendente neste sertão nortemineiro para assistir ao filme Julie e Julia. Filme encantador! Baseado em dois livros escritos em tempos bem distintos, ele aborda a forma como Julie, uma funcionária pública americana entediada com o trabalho e seu fracasso na tentativa de tornar-se uma escritora, já que não consegue terminar nada que inicia, encara um desafio: cozinhar todas as receitas francesas do famoso livro de Júlia Child e postar todas as experiências num blog . A empreitada era gigantesca para quem trabalhava o dia inteiro, chegava em casa mais 08 da noite e teria que preparar 536 receitas em 365 dias. Apesar do desânimo de alguns momentos, Julie consegue finalizar a atividade, o blog torna-se famoso, transforma-se num livro e , em 2009, nesse filme.
Para quem gosta do prazer de cozinhar, e, sobremaneira, de comer, o filme é um deleite. Leve, engraçado e edificante. Mostra, paralelamente, a força de persistência de duas mulheres: No passado, Julia Child na tentativa de publicar seu livro de receitas que tornou-se um sucesso e a levou também para a função de apresentadora de um programa de TV sobre culinária; e a determinação de Julie que, mesmo tendo inicialmente como leitora apenas a mãe, insiste no desafio por saber que isso a tornaria uma pessoa melhor, capaz de cumprir suas próprias metas. Agora quero ler os dois livros: a biografia de Júlia Child escrita pelo marido e as experiências de Julie relatadas pela própria. É muito bacana observar o quanto as histórias "renderam" com a era digital. Se inicialmente pensávamos que o computador acabaria com o livro, hoje assistimos a uma roda viva na qual as histórias vão se multiplicando. O blog Para Francisco, por exemplo, do qual sou fã, nasceu do luto da publicitária mineira Cristiana Guerra. Grávida, ela perdeu seu companheiro e para registrar as lembranças do amor entre eles com o intuito de mostrá-las posterirmente ao filho Franscisco, criou o blog que mencionei acima, cheio de vida, dor e muita beleza na escrita. Resultado? O blog passou a ter muitos seguidores emocionados com a escrita e história de Cris e trasnformou-se também no livro Para Francisco. Quem sabe um dia venha a ser um filme?
Só para citar aqui outro exemplo, a escritora Clarah Averbuck também começou escrevendo um blog, depois publicou livros e eles foram transformados em filme. Sem querer discutir aqui a qualidade dessa literatura surgida no universo cibernético, gosto muito de ver as histórias se ecoando. Esse fato lembra-me os contadores de histórias que pegam uma narrativa de um lugar, espalham-na em outro de forma já modificada e as palavras vão se tecendo por aí... No fundo, no fundo, todas as histórias, inclusive a própria vida, é uma grande rede tecida de palavras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu rastro por aqui...