Na rua em que moro, há alguns moradores (inclusive minhas avós) que vivem aqui há décadas. É bom sair de casa e receber o bom dia e o sorriso de pessoas que me viram crescer, além da bênção e o "vai com Deus". Aqui, há uma vendedora de beijú. Isso mesmo, aquela iguaria derivada da mandioca. Mesmo quando não saboreio o tal quitude que é um tanto quanto pesado, é bom ver essa minha tia-avô preparar morosamente, em uma pedra aquecida, um sabor tão arcaico e, talvez por isso mesmo, bem procurado pelas pessoas no início da noite.
De uns dias pra cá, essas mulheres da "melhor idade" de minha rua descobriram o hobby dos caça palavras. Passam horas com as revistinhas na mão, óculos na ponta do nariz, perdidas em meio ao emaranhado de letras.
Uma dessas vizinhas queridas já está com a audição limitada. Então, agora preciso aumentar a voz no "bom dia" porque, com olhos e pensamentos procurando palavras, ela já não percebe quem passa na rua.
Trocamos um sorriso cúmplice e sigo minha rota.
Não peço a Deus para ter sempre essa mesma cena, a mesma rua. Apenas rogo para que em qualquer lugar que eu viva, por onde eu passar, eu consiga notar essas frestas da beleza da vida, sempre tão rica nesses detalhes corriqueiros...
Ai que lindo, Daiane!
ResponderExcluirTanta coisa está ao nosso redor, feliz de quem tem sensibilidade para notar tanta beleza e simplicidade. Parabéns! Belo texto!