sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Ser adverso

Dedico o texto abaixo às amigas: Cínthia, Lú, Camila, Clara, Carla,Fia, Débora, entre outras tantas que são antagonicamente lindas mulheres/meninas.

No espelho da existência nunca sei a real imagem que as águas das vida, que às vezes parecem vir de outros tantos tempos, revelam quem sou.
Há dias, que acordo provinciana, com mesuras de moça casta, acostumada a ouvir serenatas do amado e a aprender a fazer muitas receitinhas de bolos e biscoitinhos, além dos bordados do enxoval.
Nesses dias, meus cabelos negros requerem grossas tranças e pareço me chamar qualquer nome que revele Maria, ou Ana. Necessariamente, nesses momentos sinto cheiro de flores e quitutes e o mês é sempre um Maio inteiro em que tudo em mim parece se preparar para um casamento.
Quando acordo assim, menina brejeira, doce e leve, sinto-me simples como o branco e a renda de que são feitos meus vestidos imaginários.
Em tal imagem, a cantiga que ouço fala de dama-escolhida, amor-primeiro, prenda minha, e outros tantos signos que evidenciam a pureza de um amor que se consubstancia como coisa óbvia e derradeira.
Entretanto, há também as manhãs quando ao me mirar, os olhos já não são translúcidos e doces. Eles se assumem de forma tão diversa que noto um ser multifacetado , com ares de esfinge, que impossibilitam definições simplistas.
Nesses dias, o amor não é tão óbvio nem perene. Sou mosaico de sentimentos e sonhos. Qualquer mínimo ato lisonjeiro é encarado como atitude sexista: Não sirvo, nem quero ser servida, pronuncio, até com certa afronta, palavras casadas semanticamente com LIBERDADE. São manhãs que ouço canções com versos complexos que aludem ao "ser mulher". Sou multicor como os tecidos metalizados e sintéticos das roupas-bandeiras que sinto cobrir minha pele - que pode ter os poros fechados, introspectivos; ou abertos, receptivos ao toque, ao meu bel-prazer.
Não mais um universo de chitas e sim de livros, cds, filmes, sites, blogs, emails...fazem parte de minha vida. Nesses momentos, sou adulta, independente e sórdida. Sou a mulher-fera que pode escolher onde usar suas garras.
E o espelho d'água se balança...não sei mais se sou uma ou outra. As imagens, músicas e vestimentas se misturam e sou antagonicamente as duas: menina de trança, mulher de olhos maquiados; e me visto entre o algodão e o bordado metalizado, preparo um prato ao mesmo tempo que leio teorias para teses infindas...
Eu sou....um dado que sempre ao mostrar um lado ofusca outras tantas faces.

3 comentários:

  1. Já estou ensaiando há algum tempo pra deixar meu rastro. Diante de palavras tão belas, tão certas e precisas e ao mesmo tempo com uma singeleza sem igual, fiquei apreensiva. Será que consigueri fazer o mesmo Dai? Externar tão perfeitamente sentimentos tão meus, e ao mesmo tempo de Lú, de Cínthia, de Clara e Débora, com a destreza que você o fez? Ser ao mesmo tempo a menina de trança e a mulher maquiada, ter crises existencialistas que os homens são incapazes, muitas vezes, de compreender, e ser também a mulher que ele sempre sonhou, ser brejeira, ser profissional, isso é ser mulher, é ser mulher/menina. E é assim, neste compasso, meio descompassado é verdade, que somos felizes. Obrigada Dai, por nos presentear com tão belo texto. Que venham muito e muitos mais.

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  2. Que ternura suas palavras!!!! Somos seres complexos mesmo né? Acho que a beleza está exatamente nessa esfinge que somos....

    Beijos....Obrigada pela leitura sempre tão pontual e carinhosa.

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  3. Aqui estou... primeiro para agradecer-lhe a homenagem, depois para parabenizá-la por suas sábias palavras q tão bem traduzem nosso vasto universo feminino.

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