quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Reticências

Ontem comentei, num grupo de pessoas, sobre uma crônica que saiu no jornal esta semana e falava sobre ciganos. Cada um começou a descrever a imagem que possui desse povo intrigante(para dizer o mínimo) e, nesse clima amistoso, um senhor já nos seus quase setenta anos, abriu um sorriso largo que nem mesmo seu bigode grisalho e espesso pode ofuscar. Passou a mão pelos cabelos ainda fartos e afirmou: " Um dia eu conheci uma cigana...".
Ele ainda repetiu a frase, mas não prosseguiu. Também não precisava! Imaginamos tudo...
Não vou tentar descrever essas imagens. Diante de um passado se apresentando assim num olhar que rejuvenesceu décadas num átimo, o próprio silêncio se traduz em quimeras, carícias e desejos.
Num momento assim, viramos exímios artistas pintando o quadro em que a tal cigana desfila sua fisionomia reticente.
Tornamo-nos músicos manuseando extintos instrumentos que ecoam uma canção que sinestesicamente cheira desejo.
Somos poetas em clássicas liras e repentistas no clarão nordestino.
Cada um, ao seu modo, dançou o ritmo da cigana, deixou que ela lesse os traços da mão e ensaiou um sorriso cúmplice de quem calado afirma de forma bem-humorada:" Senhor, sua lembrança é mais que mera recordação, são nossas próprias querenças sintetizadas numa idílica aventura cigana."

Um comentário:

Deixe seu rastro por aqui...