terça-feira, 6 de abril de 2010

Sobre o amor e suas intempéries

Os amores platônicos só são realmente belos na teoria. Imagens de paciência, sacrifício e devoção podem até fazer um baita sucesso nas melodias, no cinema ou na literatura, mas na prática...são extremamente dolorosos.
A dor de amar de forma intensa ao ponto de perder o sono, banhar-se em lágrimas pela pessoa amada que, provavelmente, nem lembra de sua existência, pode parecer extremamente poética, porém machuca infinitamente.
Marília esperando, tecendo e amando um Dirceu que já era senhor de escravos em Moçambique, casado e tranquilo no exílio totalmente esquecido dos sonhos utópicos da juventude e também da noiva, musa dos seus versos, é deveras romântico, mas certamente menos lírico e mais sofrido para a Marília de carne e osso, Maria Dorotéia, que recebeu por boca de outrem a notícia que seu amado noivo Tomás Antônio Gonzaga ( o Dirceu das liras) desposara outra moça. 
Prova disso talvez seja o fato dela nunca mais ter se relacionado com outro homem. Morreu só, certamente depois de assistir suas amigas e familiares casarem, terem filhos e viverem paixões menos heroicas e mais palpáveis do que a dela que morreu aos 80 anos, só e sem nunca mais ter botado o olho nos olhos do seu amado.
Da mesma forma, a metáfora da eterna espera encerrada por Penélope tecendo e destecendo o manto que, quando terrminado, seria sinal de que sua hipotética viuvez se acabaria e ela escolheria outro marido ganha cores mais ácidas e perde os nuances passionais quando se imagina a longa espera de mais de uma década pelo marido. 
Diferentemente da história de Tomás Antônio Gonzaga e Maria Dorotéia, Ulisses retorna para os braços de sua Penélope. Mas apenas sua presença fará com que ela esqueça todos os percalços dessa ausência de dez anos? E o amor dos dois superará as discrepâncias entre esses novos seres que surgiram depois de tantas adversidades?
A verdade sobre o amor revela-se com todas as suas idiossincrasias quando lenvantamos o véu superficial da imagem exteriorizada e alcançamos as reais angústias de um relacionamento.
Lágrimas de saudade e desespero podem até compor um lindo quadro, mas maltratam o ser e distorcem o amor que certamente combina mais com a alegria do que com o sofrimento.        

Um comentário:

  1. Que belas alusões!
    Quanta propriedade ao tratar de tema multívoco como é o amor! Parabéns!

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