sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Beatriz

       Ontem escrevi seu nome em um tecido. Ao escolher a cor da linha, manusear a agulha e planejar o melhor desenho das letras, senti-me ligada às mães de todos os tempos. Cuidar dos detalhes para sua chegada e, principalmente, sentir você crescendo aqui dentro tem preenchido meus dias.
      Estou inserida no mistério mais encantador do universo. Mais do que no corpo, a vida  vai se consubstanciando em pequenos farelos. Enquanto você se forma, também uma mãe vai se construindo aqui fora entre a ansiedade e a alegria, percebendo suas reações a determinadas canções, à presença de algumas pessoas, em cada alimento que ingiro.
       Meu lado materno sempre foi latente. Envolvi-me, com sinceridade, no nascimento de priminhos, afilhados e filhos de amigos. Entretanto, muito além da parte prática de cuidados diários que você exigirá, o que mais me preocupa é como ajudá-la se formar como ser humano. Como dosar as quimeras e a razão? Como poupá-la das pequenas e grandes tragédias que envolvem o mundo? De que forma mostrar que a complexidade da vida também está presente nas coisas simples e, por vezes, banais?
     Sempre imaginamos que o momento ideal de se ter um filho é quando estamos realizados. Não falo somente de questões materiais e práticas como plano de saúde, grana para necessidades de última hora, teto, estabilidade profissional. Refiro-me à completude como pessoa. Ter respostas para (quase) tudo, já ter resolvido todos os dilemas existenciais. Hoje sei que se esperasse esse momento, você nunca chegarei. Filha, serei sua mãe com meu quinhão de erros, medos e pedaços, mas lanço-me ao desafio. Quero aprender com e por você. Não enxugarei as lágrimas que, mãe vulnerável que sou, você me verá derramar, mas espero nunca perder a capacidade de rir das minhas próprias trapalhadas.
      Às vezes, minha parcela humanamente egoísta anda temerosa de que eu me perca com sua chegada. Medo de mudar drasticamente os hábitos, não ter tempo para me deleitar com coisas que gosto... mas sei que, embora traga sérias mudanças, você será a minha parcela mais nobre, a quem dedicarei, com gosto, meus melhores momentos. Hoje tudo são conjunturas, mas em breve, meus medos serão concretizados em dilemas práticos. Agora, estou em estado de esperança: esperar, cheia de amor, por você.
   

terça-feira, 17 de abril de 2012

Fato consumado

"Se toda hora é hora
De dar decisão
Eu falo agora
No fundo eu julgo o mundo
Um fato consumado
E vou-me embora" (Djavan)

Ando nostálgica ultimamente...
Aquela mistura estranha de saudades de coisas que nem vivi e melancolia. Às vezes por causa de uma fachada de uma casa, uma ruela empoeirada, um samba antigo, um verso banal. 
Talvez pelas pressões que passei nos últimos tempos, pelo passo importante que vou dar daqui a pouquíssimos dias, só sei que ando saudosa das tardes preguiçosas da adolescência, de ter tempo para conversar com as amigas e de ler... sem obrigações... apenas para buscar o prazer das palavras. Apenas para penetrar o silêncio e tentar me encontrar.
Passei uma tarde de domingo maravilhosa com amigas e familiares. Que delícia reconhecer em cada história e olhar a amizade. Tão Bom ser paparicada e receber votos sinceros de felicidade. Melhor ainda é saber que a vida vai adicionando coisas novas, cenas inusitadas que, aos poucos, também vão se integrando a minha história.
Mas hoje, só um pouquinho, deixo as obrigações, medos e metas para ser nostálgica. Cantarolar os versos de Djavan que dançava sozinha na sala e pensar numa época em que ser 'adulto' e ter 30 era algo tão distante quanto a lua.