sexta-feira, 16 de abril de 2010

Por que adoro sextas-feiras...

“Não sei se vocês já sentiram, leitores, a obrigação de ser feliz que vem embrulhada nas tardes de sexta-feira. É como uma imposição: quem não for estupidamente feliz, entre num bar e beba um vermute com amendoim e se embriague como nos doces tempos de outrora”.

Roberto Drummond

terça-feira, 6 de abril de 2010

As palavras e o tempo

Outrora escrevi um texto a lápis.
Voltei para cobrí-lo de tinta como forma de deixá-lo, pelo menos por um tempo, protegido das peripécias do tempo.
O tempo....
Ele já tinha começado a tecer suas teias viscerais e minhas palavras já começam a se apagar.
Misturadas, não permitiram a devida leitura.
Não consegui reler o que escrevi naquele tempo.
O tempo realmente apagou as letras, ou fui eu quem me apaguei daquelas remotas palavras?

Sobre o amor e suas intempéries

Os amores platônicos só são realmente belos na teoria. Imagens de paciência, sacrifício e devoção podem até fazer um baita sucesso nas melodias, no cinema ou na literatura, mas na prática...são extremamente dolorosos.
A dor de amar de forma intensa ao ponto de perder o sono, banhar-se em lágrimas pela pessoa amada que, provavelmente, nem lembra de sua existência, pode parecer extremamente poética, porém machuca infinitamente.
Marília esperando, tecendo e amando um Dirceu que já era senhor de escravos em Moçambique, casado e tranquilo no exílio totalmente esquecido dos sonhos utópicos da juventude e também da noiva, musa dos seus versos, é deveras romântico, mas certamente menos lírico e mais sofrido para a Marília de carne e osso, Maria Dorotéia, que recebeu por boca de outrem a notícia que seu amado noivo Tomás Antônio Gonzaga ( o Dirceu das liras) desposara outra moça. 
Prova disso talvez seja o fato dela nunca mais ter se relacionado com outro homem. Morreu só, certamente depois de assistir suas amigas e familiares casarem, terem filhos e viverem paixões menos heroicas e mais palpáveis do que a dela que morreu aos 80 anos, só e sem nunca mais ter botado o olho nos olhos do seu amado.
Da mesma forma, a metáfora da eterna espera encerrada por Penélope tecendo e destecendo o manto que, quando terrminado, seria sinal de que sua hipotética viuvez se acabaria e ela escolheria outro marido ganha cores mais ácidas e perde os nuances passionais quando se imagina a longa espera de mais de uma década pelo marido. 
Diferentemente da história de Tomás Antônio Gonzaga e Maria Dorotéia, Ulisses retorna para os braços de sua Penélope. Mas apenas sua presença fará com que ela esqueça todos os percalços dessa ausência de dez anos? E o amor dos dois superará as discrepâncias entre esses novos seres que surgiram depois de tantas adversidades?
A verdade sobre o amor revela-se com todas as suas idiossincrasias quando lenvantamos o véu superficial da imagem exteriorizada e alcançamos as reais angústias de um relacionamento.
Lágrimas de saudade e desespero podem até compor um lindo quadro, mas maltratam o ser e distorcem o amor que certamente combina mais com a alegria do que com o sofrimento.        

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O amor requer registros...

É uma forma de tentar eternizar o fulgaz momento. Adolescentes escrevem os nomes enamorados em troncos de árvores, capas de caderno, palma da mão...
Há circunspectos adultos que confessam, num misto de nostalgia e humor, que já escreveram em gomos de bambu para que o amor do casalzinho infantil crescesse junto com a planta. 
E o que dizer das cartas de amor??? Tentativa de dar nome para aquele sentimento que o significado está sempre além...em todo lugar/nenhum lugar: o querer bem!  
Outro dia recebi cartinha do meu namorado e lembrei-me dos versos de Fernando Pessoa sob a voz de Álvaro de Campo:

"Todas as cartas de amor são

Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
(...)

Álvaro de Campos, 21-10-1935  

Bom....não achei a cartinha do meu amor nada ridícula! Pelo contrário, bem real, repleta de sentimentos nobres e sonhos possíveis. Mas, se amar  e escrever cartinhas for mesmo patético, assumo a sina. Deem-me logo o narizinho vermelho que quero entrar na fantasia. Tanto que corri para responder as palavras amorosas.

A vida é efêmera...o amor quer se fazer eterno, palpável na sua matéria feita de quimeras, por isso exige registros...
Alguém sabe onde encontro um pé de bambu para desenhar as iniciais dentro de um coração??? Também nos imaginamos perenes nesses momentos...